domingo, 19 de julho de 2015

Rainha Branca

Alçada ao topo por algum acontecimento inexplicável, a Rainha Branca julga a todos do alto de sua torre de marfim. Atormentada pela solitária condição, persuade-se da sua virtude apontando para os defeitos dos outros. Diante da vulgaridade de uma falha pública seus mesquinhos desvios privados são esquecidos, sua moral enrije-se e sua conduta torna-se imaculada. Um abismo moral abre-se entre a Rainha e os ímpios, permitindo-lhe o mais implacável dos julgamentos. Pois lá de cima todos lhe parecem pequenos, ordinários e comezinhos, sujeitos às sentenças embasadas na sua inalcançável moralidade. Não há quem escape ao seu crivo. E a cada juízo estabelecido, a cada parecer formulado, sua posição eleva-se ainda mais, tornando os de baixo ainda mais insignificantes face a sua crescente altivez. A ponto de a Rainha não conseguir ver nada além de pequenos pontos pretos que a cercam num distante tabuleiro.


Nenhum comentário:

Postar um comentário