Há poucas coisas mais desesperadoras do que ver sumir o último resquício de terra na linha do horizonte. A partir daí tudo vira mar e céu. Um medo primordial, daqueles que vem lá do fundo do peito, toma conta da gente.
Quando se tem um meio de propulsão e um assoalho aos seus pés, esse medo é controlável. Dá para apelar à razão e se concentrar em outras coisas enquanto dissimulamos estar no controle da situação. Agora, quando estamos à deriva sobre um pedaço de poliuretano, sendo arrastados para longe da costa, é impossível negar o medo.
Era ele que me impulsionava, minutos atrás, a remar desesperadamente contra a corrente. É ele que se senta sobre meus ombros agora, paralisando meu corpo e meus pensamentos, na ideia fixa de que a morte é inevitável.
Enquanto sou arrastado mar adentro, respiro com dificuldade, oscilando entre a esperança remota de ser encontrado por alguma embarcação e a certeza de morrer desidratado ou de hipotermia. A ideia estúpida de largar a prancha e nadar para a praia ficou para trás há algum tempo, mesmo assim ela ronda minha mente como uma mosca insistente.
Não há nada a ser feito. Digo para mim mesmo enquanto me resigno a manter o máximo possível o corpo para fora da água. Preciso preservar o calor do corpo e a sanidade.
A tarde estava quente para um dia de outono, convidativa para um banho no pelo. Assim que o sol for embora, porém, isso aqui vai virar um gelo. Por sorte estou de roupa de borracha. Odeio passar frio.
A ideia do anoitecer no meio do mar me aterroriza novamente. Recomeço a remar, forçando os braços adormecidos ao movimento repetitivo. A dor cresce, o ímpeto diminui, e ausência de qualquer referência, além do sol caindo, é desesperadora.
Sento-me novamente na prancha e choro. Choro por mim, por um apego narcísico à vida, que gradualmente vai se transformando em um choro de tristeza. Penso na minha filha, em tudo que perdi, não disse ou não fiz, e choro em meio à corrente que me leva para longe de tudo.