A vida é cheia de primeiras vezes. Primeiro beijo, primeiros passos, primeiros cabelos brancos... Algumas passam batido, não deixam marcas nem memórias. Outras perduram e ganham novas camadas a cada remorada. Há também aquelas que se descolam tanto do ocorrido, que se tornam lembranças inventadas, fábulas biográficas.
Dificilmente, porém, alguém se recorda do primeiro joelho
ralado. Um evento extremamente importante, um dos primeiros contatos não mediados
com a dura realidade, que ocorre cedo demais para a memória. Por isso faço o
registro.
Foi na manhã de 04 de janeiro de 2023. Uma manhã ordinária
de um ano que prometia ser auspicioso. Uma brisa de esperança e novos tempos
soprava no calor escaldante de Porto Alegre. Dois moradores de rua arrastavam
um tanque de aço enferrujado com enorme dificuldade pela calçada. O sinal abria
e fechava enquanto confabulávamos sobre as cores e o momento certo para
atravessar a rua: “Dá para passar?”, “Ficou verde?”. Tudo era absorvido e
devolvido na forma de uma sincera interrogação.
Agora dá, vamos para a escola! A resolução apressada e os
passos trôpegos logo nos lembraram que ainda havia muito a aprender. Mas a
queda faz parte do aprendizado. E o choro que se seguiu também.
Tudo bem, meu filho (dois joelhos ralados de uma só vez).
O colo ajuda a nos recompor do baque. A dor vai passar. Vamos limpar esse sangue e poeira e vamos contar para todos o ocorrido. Ficam as marcas da aventura e, agora, o registro da tua bravura.


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