Que tal espiarmos a lua lá fora, ele sugeriu, tomar um ar e nada mais. Ela sabia que este
tipo de convite nunca é gratuito ou desinteressado, mas a festa estava
enfadonha e o calor opressivo. Além do mais, ele não era de todo desagradável,
fora o ar petulante e as perguntas ensaiadas parecia ser uma pessoa
interessante. Mas bem que podia estar enganada, como já ocorrera outras vezes.
De qualquer forma era uma quente noite de primavera e um cigarro ao ar livre
não faria mal.
A varanda
era realmente grande, repleta de vasos e ornamentos exóticos, vastas folhagens
escorriam pelas paredes e ramos das mais diferentes flores emanavam seus aromas
em todos os cantos. A lua estava cheia e imensa, tal qual um enorme holofote
suspenso no céu, lançava sua pálida luz sobre aquele jardim improvável, cravado
a onze andares do chão no centro daquela cinza floresta de concreto.
Seu papo
mole continuou por alguns minutos, chocando-se contra o muro de indiferença e
tédio erguido por ela. Todavia o ambiente estava envolvente demais para que as
coisas permanecessem nesta condição. Relativamente frustrado ele calou-se e
passou a contemplar o céu parcialmente estrelado, acendeu um cigarro para ela e
relaxou um pouco em suas investidas.
O efeito
foi quase instantâneo, entre as lentas baforadas que se dissolviam no céu
noturno, ela passou a reparar nos seus traços e movimentos tranquilos. Sua
presença passou a inspirar-lhe conforto e segurança, mais que isto, passou a
desejá-lo. E sem que pudesse perceber sorria com sinceridade. Ele, contudo,
percebeu a mudança.
Vacinado,
se manteve em silêncio. Aproximou lentamente seu rosto do dela e sem desviar o
olhar beijou-a. A noite, que já
estava quente, incendiou-se, e um calor tremendo invadiu seus corpos. Cada
centímetro quadrado de seus seres ansiava pelo contato, apertavam-se e
tocavam-se vorazmente. Não havia mais ninguém na varanda além deles, mas inúmeras janelas dispunham-se de frente ao parapeito. A cidade fervia e pulsava diante
deles. Incontáveis vidas transcorriam naqueles retângulos acesos e isto os
contagiava de uma forma inexplicável.
Sua mão
percorria toda a extensão do corpo dela, seu vestido, outrora refrescante e
confortável, grudava na pele devido ao suor e a sufocava. O barulho da festa,
das pessoas rindo e mentindo no salão, abafava seus ruídos crescentes.
Arfavam e gemiam, mordiam-se e se desejavam com uma intensa volúpia. Sem
maiores cerimônias ele a virou contra a mureta, em direção à noite que os assistia, e beijou sua nuca enquanto pressionava seus quadris. Tocou a lateral
do seu joelho com a ponta dos dedos e subiu por suas pernas quentes até sua
delicada calcinha.
As ruas
abaixo deles rugiam e cuspiam pessoas por todos os lados. Como mariposas numa
noite tropical elas iam e vinham em direção às luzes, chocando-se
aleatoriamente. Ela gemia e mordia-se com suas carícias, estava completamente
molhada e implorava por seu contato. Sem poder mais se controlar ele arrancou-lhe a
roupa íntima, abriu suas calças e tomado pela excitação libertou-se de suas
vestes.
A noite
seguia em plena atividade quando levantou seu vestido e a penetrou com prazer.
Todos estavam acordados, bebendo, cozinhando, brigando ou latindo. Toda a
cidade pulsava ritmada por aquele calor embriagante. Parecia que todos evitavam
suas camas e moviam-se naquela noite. E eles pulsavam e moviam-se juntos com a
cidade, gemiam alheios a tudo e a todos, mas ao mesmo tempo, em
consonância com aquele imenso organismo orgástico, rumo ao clímax absoluto.
Porém
toda a efervescência tem seu fim, e quando o gozo acaba a normalidade volta a
imperar. Os constrangimentos retornam e a sintonia se desfaz. As luzes
gradativamente se apagam e a vida desacelera. Tudo se recompõe tão naturalmente
que parece nunca ter ocorrido. Mas mesmo para aqueles que buscam esquecer,
noites primaveris como esta sempre deixam suas marcas, seja nas calcinhas rasgadas ou em números de telefones inexistentes.


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