terça-feira, 17 de julho de 2018

Diojenes, o guarda carros* - I


- Deixa eu me apresentar primeiro, sou Diojenes, guardador de carros por opção e estoico por necessidade. Nem sempre tive nessa, não, não nasci na rua, já fui cidadão respeitado, funcionário público do estado, essas coisa tudo. É… pode acreditar. Mas não deu muito certo pra mim, muita encheção, rotina e gente pequena, cabeça pequena, sabe? Não era pra mim, enchi o saco, meti o loco e nunca mais apareci. Nem sei que fim levou a boca, talvez eu ainda possa voltar, um dia, se quiser, sei lá. Não que eu queira, até porque aqui eu tô bem, tenho tudo que preciso. Tenho aquele colchão lá atrás, tenho a companhia do Platão, o pessoal quando sai do Tudo me deixa uma quentinha às vezes.

Eu sou estoico, tá sabendo? Não preciso de muito, não. Essas coisas de bacana só nos desviam da… Pera aí um poquinho. (Pode vir mais vossa excelência, desfaz tudo, isso, vem mais, ae, perfeito, muito obrigado!). Véio muquirana, sempre essa merreca… Onde a gente tava mesmo? Ah, sim, isso mesmo. Sou estoico, que é tipo uma filosofia de vida, sabe? Só que em vez de me matar para ter um monte de coisa que não preciso, vivo só com o básico e sou feliz. Quer dizer, feliz é o Platão aqui catando pulga no sol, eu vivo bem.

Esses dias passou duas senhorinhas por aqui com aqueles papeuzinhos de jesus pra entregar nas casa, sabe? Cheias de boa vontade! Daquelas que as pessoa fingem que não tão em casa pra não ter que ouvir sermão. E, bom, nessas hora é ruim não ter portão eletrônico, porque na passada elas pararam aqui e tentaram me convencer a sair da rua, arranjar um emprego, procurar jesus e tudo mais. Muito gentis as donas, mas totalmente enganadas. Lá pelas tantas uma delas, bem baixinha e gordinha, me disse que jesus era o único caminho e a resposta pra todos os males. Rá… tive que responder pra dona que eu não só não tava perdido, como já tinha tentado comer um xis jesus pra matar a fome e não tinha funcionado muito bem. Nem pra mim, nem pro Platão. E bem na hora que eu falei o nome dele ele levantou a cabeça, bem assim como ele tá fazendo agora, e olhou pra elas como que confirmando minha história. Rá… foi demais. Elas foram embora meio sem jeito e nunca mais vi elas por aqui.

Não fosse a fome que a gente passou naquela semana era uma ótima história. Sei lá, elas deve te rogado uma praga pra nós, pra mim e pro Platão. Não que eu acredite muito nessas coisa, não, mas vai saber né… Na dúvida tô evitando brincadeira com carola e com xis também, por garantia. Falando nisso, se quiser fortalecer nós com algum aí eu não me incomodo, não, viu? 

Muito obrigado chefia, isso aqui vai ajudar no sustento da semana. E, viu só, quando quiser mais falatório aí é só chegar, a rua tá sempre aberta pra conversa.

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*Advertência: Leia em voz alta

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