Amavam-se.
E isto lhes bastava. Em momentos como este, complementavam-se de tal forma que
suas individualidades pareciam diluir-se numa confusa história comum.
Caminhavam entrelaçados pela orla noturna da praia, uma leve brisa que soprava
da terra trazia aromas distantes e resfriava seus corpos a ponto de
estreitarem-se um no outro o máximo possível. Era uma sensação agradável, um
frio que fazia com que se sentissem mais vivos, mas que também podia ser
facilmente reconfortado no calor do outro.
O céu,
incrustado de estrelas apenas como o firmamento de um litoral afastado de
qualquer cidade grande sabe ser, iluminava palidamente a areia sob seus pés.
Nada mais os preocupava durante aquele instante, todos seus problemas e
incertezas vagavam quilômetros a margem de suas rotas. Estavam leves e distraídos.
Suas atenções divagavam sem rumo certo, entre as sensações de seus corpos e
seus sentimentos de momentânea plenitude.
Por várias
vezes aquele silêncio denso, ritmado pelas vagas que quebravam junto à praia, esteve
a ponto de ser rompido por algum comentário casual. Mas nenhum dos dois estava
disposto a interromper a confortável situação. Mantinham-se calados lado a
lado. Caminhando e refletindo sobre a felicidade e a fugacidade daquele
instante. Eram românticos, mas não ingênuos. Tinham a certeza de que se amavam
naquele preciso momento, porém temiam o futuro e sua ausência de garantias.
Desconheciam
até quando seria sustentável sua situação e não estavam dispostos a pensar
muito a respeito, seu desejo era permanecerem assim de forma indeterminada. Caminhariam
até onde a areia se estendesse, enquanto a noite durasse ou a brisa soprasse.
Enquanto as ondas quebrassem e as estrelas cintilassem, se manteriam unidos, entrelaçados
num abraço estreito rumo à desilusão.


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