sábado, 17 de dezembro de 2011

Sonora Madrugada


Amavam-se. E isto lhes bastava. Em momentos como este, complementavam-se de tal forma que suas individualidades pareciam diluir-se numa confusa história comum. Caminhavam entrelaçados pela orla noturna da praia, uma leve brisa que soprava da terra trazia aromas distantes e resfriava seus corpos a ponto de estreitarem-se um no outro o máximo possível. Era uma sensação agradável, um frio que fazia com que se sentissem mais vivos, mas que também podia ser facilmente reconfortado no calor do outro.
O céu, incrustado de estrelas apenas como o firmamento de um litoral afastado de qualquer cidade grande sabe ser, iluminava palidamente a areia sob seus pés. Nada mais os preocupava durante aquele instante, todos seus problemas e incertezas vagavam quilômetros a margem de suas rotas. Estavam leves e distraídos. Suas atenções divagavam sem rumo certo, entre as sensações de seus corpos e seus sentimentos de momentânea plenitude.
Por várias vezes aquele silêncio denso, ritmado pelas vagas que quebravam junto à praia, esteve a ponto de ser rompido por algum comentário casual. Mas nenhum dos dois estava disposto a interromper a confortável situação. Mantinham-se calados lado a lado. Caminhando e refletindo sobre a felicidade e a fugacidade daquele instante. Eram românticos, mas não ingênuos. Tinham a certeza de que se amavam naquele preciso momento, porém temiam o futuro e sua ausência de garantias.
Desconheciam até quando seria sustentável sua situação e não estavam dispostos a pensar muito a respeito, seu desejo era permanecerem assim de forma indeterminada. Caminhariam até onde a areia se estendesse, enquanto a noite durasse ou a brisa soprasse. Enquanto as ondas quebrassem e as estrelas cintilassem, se manteriam unidos, entrelaçados num abraço estreito rumo à desilusão.

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