sábado, 12 de junho de 2010

Determinismos

Madrugada fria. Alguns bêbados e boêmios ainda caminham pelas ruas em busca de um destino. Eu aguardo meu ônibus de mãos nos bolsos. Tô louco pra acender um cigarro, mas meus dedos iriam congelar. Não é noite nem dia, é aquela hora limite quando as coisas se misturam. O ar parece mais denso e linha do horizonte mais extensa. Aqueles pobres infelizes que recém acordaram para trabalhar, como eu, se encontram com os que estão indo para suas casas dormir satisfeitos.

Como eu odeio acordar cedo! Queria poder acordar somente quando desse na telha, quando o sol estivesse alto e o dia mais quente. Mas faz tempo que não cumpro minhas vontades. Atuo quase que mecanicamente, pois desenvolvi uma rotina impossível de ser quebrada. Lembro-me de quando tinha todas as oportunidades a minha frente e tudo era possível. Mas o problema está nas escolhas, cada uma que fazemos encerra milhares de outras e assim sucessivamente até não podermos mais escolher senão sobre a cor da camiseta. E talvez nem isso, pois há aqueles que acreditam na providência divina ou no determinismo cósmico, o que não deixaria nem a camiseta para nós.

Prefiro acreditar que forjei minha própria sorte através das minhas escolhas, é menos desalentador, mas tenho que concordar que as camisetas são determinadas previamente por uma força superior. Pois sempre pego a primeira da pilha, o que poderia ser considerado uma escolha racional frente a um problema cotidiano, porém há uma variável além da ordem aleatória da disposição das camisetas, minha mulher inverte a pilha ocasionalmente para que eu não use sempre as mesmas camisetas. Ou seja, caos total, não possuo nenhum controle nem mesmo sobre as minhas camisetas.

Estou fadado a um destino prévio, cujo qual não adianta lutar. Só me resta observar pacientemente enquanto a vida passa. Aguardando o desenrolar do destino que... Caralho esse ônibus tá atrasado pra caramba! Não aguento mais ficar nesse frio pensando merda!

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