segunda-feira, 26 de abril de 2010

Sky Above

Caminhava sobre a tubulação à noite, realizava minha rotina diária e enfadonha, revisando equipamentos e níveis de tanques. O céu parecia mais estrelado do que nunca e exercia uma estranha influência sobre minha disposição. Aquela imensidão toda parecia me oprimir com sua beleza e infinitude, algo como uma troça sobre minha acomodação em relação as possibilidades existentes. Como se o firmamento me encara-se e disse-se "O que aconteceu com aqueles sonhos?"

Retruquei que estavam todos em pé, apenas aguardando o momento certo de executá-los, mas na verdade já havia abandonado alguns, havia me contentado com os mais modestos ou ordinários. Os mais ousados e originais nunca mais me ocorreram. Um vento frio soprou do sul e arrepiou minha espinha até a nuca. Amadurecimento chamava-se aquilo, desistir de idéias malucas de garoto e priorizar coisas importantes como emprego e estabilidade financeira.

Uma estrela cadente cruzou o céu num piscar de olhos, a princípio sorri, depois um terror tomou conta de mim quando percebi não ter um desejo significativo na ponta da língua. Fiz um esforço tremendo, mas as coisas banais que surgiam na minha mente apenas pioraram a situação. Passaram-se minutos sem que consegui-se formular um desejo importante. Desisti. Resignei-me a continuar minha rotina sem mais olhar para o céu.

Sobre a tubovia, pulei de uma tubulação para a outra. Ao aterrissar meu pé escorregou e fui inevitavelmente jogado de costas contra o chão. Preso entre duas tubulações, com um tornozelo fraturado, fiquei caído gemendo de dor. Passei o restante do meu turno naquela situação esperando sentirem a minha falta. Contei dezessete estrelas cadentes.

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