quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A dúvida como certeza

Chovia há uma semana incessantemente, uma chuva fina capaz de molhar os ossos e a alma. Miranda caminhava em direção a universidade com os tênis encharcados de pisar em poças e com um crescente desânimo em relação à aula que o esperava. Refletia, entre um guarda-chuva e outro, sobre alguns pontos do texto que o professor havia proposto, enquanto dúvidas, tão incessantes como a chuva, o atormentavam. Dúvidas estas, conhecidas e recorrentes, relacionadas as suas escolhas profissionais, ideológicas e de formação. Uma velha ladainha que ele recitava periodicamente, questionando todas suas opções e onde elas o haviam levado. Normalmente esta sabatina não passava de um hobbie, um esporte que praticava quando não tinha nada para fazer, pois dificilmente o levava a uma mudança radical, porém desta vez, estava convictamente inclinado a tomar uma decisão brusca.

Talvez fossem a chuva e os pés molhados, ou talvez o texto que havia lido penosamente com a perspectiva de nunca usar para nada aquelas informações, mas o certo era que estava decidido a largar a universidade. Estava cansado do ambiente acadêmico, do esforço despendido para um reconhecimento insignificante. Gostava do saber, do conhecimento, não lhe importava tanto esse reconhecimento, não era esta escolha que o perturbava mais. Contudo já não suportava mais as cadeias de abstrações gigantescas com usos por demais específicos, o pedantismo que pairava sobre as salas e os debates travados entre vaidades inflexíveis. Não via nada que o mantivesse mais sobre esta escolha, largaria seu curso hoje, começando por esta maldita cadeira.

Tamanha foi sua absorção nestes pensamentos que sem perceber seguiu inconsciente seu trajeto até o campus, estava ensopado prostrado em frente ao prédio, tentava acatar sua resolução, dar meia volta e rumar para casa, mas a visão daquele prédio seco e aquecido derrubou, como um castelo de cartas, todas suas convicções formuladas anteriormente. Entrou, subiu a escada e ingressou na sua sala, não havia ninguém, apenas uma nota anônima escrita no quadro:

- Não haverá aula hoje.

2 comentários:

  1. Rodrigo, este é muito bom, os outros são toscos. Gosto da tua prosa apesar de ser um pouco "mais do mesmo", mas pode melhorar e muito. Claro, não sei se essa é tua intenção, enfim, acho legal continuar.

    Lauci.

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  2. Valeu pela crítica Esfregão!
    Principalmente pelo "tosco" e o "melhorar e muito".
    Quanto a intenção não estou bem certo ainda, mas acho que é um "mais do mesmo tosco".

    Abraço

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