quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Ruído de Fundo

Algo quebrou entre nós (tenho quase certeza!), posso ouvir seu ruído agora quando ficamos em silêncio à noite. É um ruído sutil, quase imperceptível, mas que lentamente ganha força e passa a ocupar todo o espaço entre nós. O que antes era conforto e cumplicidade logo torna-se um incômodo constante. E sob o peso da atmosfera criada nada mais parece funcionar como antes, até mesmo as palavras mais inocentes hesitam em deixar as bocas. Reinam suspiros e olhares perdidos, na busca por algum sinal que possa nos orientar em meio ao barulho crescente. Mas nada acontece. E o ruído prossegue, avolumando-se sobre nós, cada vez mais perturbador, a ponto de um grito quase me escapar. Porém temo chamar atenção para algo que talvez não tenha conserto. Por isso tento ignorar, dissimular sua existência, enquanto ele segue desgastando, tensionando, sobrepesando cada palavra ou gesto nosso. Reduzidas assim as folgas, qualquer passo em falso pode por tudo a perder, de tal forma que permanecemos imóveis, ouvindo e aguardando pela hora de apagarmos as luzes, na esperança de que amanhã o ruído tenha desaparecido.