sábado, 18 de fevereiro de 2012

Hipocrisias do Gênero


Toda tensão se dissipara em menos de um segundo, porém ao invés de um reconfortável relaxamento dos músculos e da alma, como de costume, o terrível peso da culpa assomou-se sobre seus ombros. Um silêncio constrangedor imperou no momento seguinte. Invejou profundamente todos os fumantes, capazes de contornar de forma natural aquela embaraçosa situação com um simples movimento das mãos e um acender de cigarro.
Contudo não possuía a mesma sorte, largara o tabaco há muitos anos e estava fadado a encarar sua companhia sem a presença do cigarro. Fora ela quem quebrara o silêncio que já se estendia longamente para além do constrangimento. “Tudo bem com você?” Era óbvio que não estava tudo bem com ele, além da ausência da fala estava inquieto e nervoso. Nitidamente perturbado.
Sua voz saiu tremida, as palavras pareciam trancadas na garganta. Quase gaguejando respondeu: “Sim, estava apenas pensando.” Mas como era perturbadora aquela situação. E pensar que minutos atrás estavam no mais elevado nível de intimidade, e em grande sintonia também. Todavia agora agiam como completos desconhecidos que foram recentemente apresentados em um contexto desfavorável.
Uma imensa parcela da responsabilidade por este impasse era sua. Era nele que residia toda culpa e remorso que se espalhavam pelo ar congelando o espaço existente entre os dois. Resmungou algumas palavras incompreensíveis antes de levantar e buscar uma cerveja na geladeira. Ela, tomada por aquela atmosfera fria e coberta pelo lençol o máximo possível, perguntou-lhe se queria ir embora. Sim, algo gritava dentro dele. Pegue suas roupas e fuja para rua. Mas sabia que aquilo apenas agravaria sua culpa.
Voltou a sentar na borda da cama, deu mais um gole em sua bebida e começou a falar. Divagou sobre os mais variados assuntos enquanto ela silenciosamente ouvia com atenção e assentia com indiferença. Ela deixou que ele falasse tudo o que queria, pois percebera uma gradativa redução em seu nervosismo enquanto falava. Após alguns minutos de intenso falatório estava tranqüilo novamente, e mais que isso, ela voltara a sentir atração por ele.
Ela permitiu que discorresse ainda mais em seu monólogo, quando percebeu uma pausa mais longa avançou sensualmente sobre seu corpo. Todas suas justificativas e barreiras morais, habilmente levantadas na última meia hora, ruíram com aquele avanço repentino. Inevitavelmente conviveria com a culpa, e ela, com o prazer.