Toda tensão se dissipara
em menos de um segundo, porém ao invés de um reconfortável relaxamento dos
músculos e da alma, como de costume, o terrível peso da culpa assomou-se sobre
seus ombros. Um silêncio constrangedor imperou no momento seguinte. Invejou profundamente
todos os fumantes, capazes de contornar de forma natural aquela embaraçosa
situação com um simples movimento das mãos e um acender de cigarro.
Contudo não possuía a
mesma sorte, largara o tabaco há muitos anos e estava fadado a encarar sua companhia
sem a presença do cigarro. Fora ela quem quebrara o silêncio que já se estendia
longamente para além do constrangimento. “Tudo bem com você?” Era óbvio que não
estava tudo bem com ele, além da ausência da fala estava inquieto e nervoso.
Nitidamente perturbado.
Sua voz saiu tremida, as
palavras pareciam trancadas na garganta. Quase gaguejando respondeu: “Sim,
estava apenas pensando.” Mas como era perturbadora aquela situação. E pensar
que minutos atrás estavam no mais elevado nível de intimidade, e em grande
sintonia também. Todavia agora agiam como completos desconhecidos que foram
recentemente apresentados em um contexto desfavorável.
Uma imensa parcela da
responsabilidade por este impasse era sua. Era nele que residia toda culpa e remorso
que se espalhavam pelo ar congelando o espaço existente entre os dois. Resmungou
algumas palavras incompreensíveis antes de levantar e buscar uma cerveja na
geladeira. Ela, tomada por aquela atmosfera fria e coberta pelo lençol o máximo
possível, perguntou-lhe se queria ir embora. Sim, algo gritava dentro dele.
Pegue suas roupas e fuja para rua. Mas sabia que aquilo apenas agravaria sua
culpa.
Voltou a sentar na borda
da cama, deu mais um gole em sua bebida e começou a falar. Divagou sobre os
mais variados assuntos enquanto ela silenciosamente ouvia com atenção e
assentia com indiferença. Ela deixou que ele falasse tudo o que queria, pois
percebera uma gradativa redução em seu nervosismo enquanto falava. Após alguns
minutos de intenso falatório estava tranqüilo novamente, e mais que isso, ela
voltara a sentir atração por ele.
Ela permitiu que discorresse
ainda mais em seu monólogo, quando percebeu uma pausa mais longa avançou
sensualmente sobre seu corpo. Todas suas justificativas e barreiras morais,
habilmente levantadas na última meia hora, ruíram com aquele avanço repentino.
Inevitavelmente conviveria com a culpa, e ela, com o prazer.

