terça-feira, 7 de junho de 2011

Tempestades De Verão

Ela vem surgindo rapidamente, primeiro como um chiado indissociado que ganha espaço e volume. Depois, zunidos e assobios que tornam a atmosfera cada vez mais pesada. Ao longe, escutamos a batida de uma porta. É como uma certeza em que não queríamos crer - a tempestade está chegando.
O ar se enche de movimento, nossa alma parece inflar e o coração teme que ela escape. As pessoas apertam o passo como se pudessem fugir do temporal, seus lixos e saias voam com o vento. As roupas nos varais tremulam como bandeiras no campo de batalha. A natureza se aproxima através de sua forma mais intensa e brutal.
Os mais comedidos fecham suas janelas e trancam suas portas. Porém, sempre há aqueles em que a emoção sobressalta a razão. Que ganham a rua e desafiam a tormenta. Como loucos, andam contra a força do vento abrindo os braços e gritando disparates. Urram contra Deus e o mundo sua bravura.
A tempestade responde intensificando sua força, pondo em prova nosso direito de existir. Árvores se dobram, vidros vibram a ponto de romper, e uivos intensos espalham o temor por onde passam.
O ímpeto combativo arrefece, o medo passa a espreitar o coração dos mais ousados. Mas a emoção lhes rebenta o peito, já se foi o tempo de recuar, ali estão em seu derradeiro momento. Por fim, reúnem as forças restantes num último brado...
E são recompensados pelas gotas que lhes vertem a face. A chuva que cai opulenta toma o lugar da ameaçadora ventania. A calmaria que se anuncia promete a paz entre o homem e a natureza novamente. Contudo, a cada tormenta que surge há menos interlocutores dispostos a reivindicar nossa natureza.